NÃO HÁ VAGAS

ferreira-gullar-rosto-metade-300x212by Ferreira Gullar

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira

* Muito espirituoso, não acham???!!!

Fonte: – Ferreira Gullar – Poemas

16 responses to this post.

  1. Faço das minhas palavras as da Paula. E pode imaginar a gente jogando confete em você também, tá? 🙂

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  2. Muito!

    Kisu!

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  3. O poema mais puro porque nele não cabe segundas intenções, nem decepções, nem malandragem. Mas cabe gente como vc, meu amigo, com o coração amorosa e as palavras mais doces.

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  4. Posted by Marcilane on 20 de novembro de 2013 at 17:44

    Lembro muito bem desse poema nos livros didáticos do ensino fundamental. Gostava muito de lê-lo e ver nossa realidade ali estampada, que infelizmente não é lá das melhores e assim continua. É penoso saber que esse quadro se repete anos após anos, é penoso saber que os que mais trabalham são os que menos recebem e que menos conseguem desfrutar a vida. Dentro de mim há a vontade de que tudo isso mude algum dia, e que haja sempre vagas para que aquelas pessoas que realmente necessitam consigam sua realização pessoal, profissional, sua vida tranquila, sua vida feliz.

    Muito boa essa lembrança Manoel!
    Beijos**

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    • Marcilane, tudo isso é triste mesmo, contudo já existe algum progresso para se evitar que isso se prolongue que é a nossa conscientização. A medida que participamos temos a chance de bloquear e organizar muitas coisas boas para a sempre nova safra do povo brasileiro.
      Muito legal o seu comentário. Cabecinha boa, não é?
      Beijo carinhoso^^

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  5. Gullar sempre polêmico nos seus poemas. Pra mim, no poema cabe tudo e mais um pouco, e ele, como respira, exala lirismo por todos os poros. Se fede ou cheira, depende de quem lê. Gr. Bj. Manô!

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  6. Pois bem, se não há vaga no poema, ele criou uma onda… onde, afinal, tudo coube 🙂
    Gostei, Manoel!
    Abraço!

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  7. Olá,amigo Manoel!
    Achei tão interessante a abordagem desta desafiadora poesia! Mas mesmo apesar da aparência crua e dura de sua superfície filosófica, ainda habita nela o encanto do poeta que se zanga com os absurdos do nosso humano cotidiano, sem perder a candura, pois no seu espanto há la no fundo a vontade de que a vida fosse mais leve e bonita para todos….Tinha que ser o Ferreira Gullar!
    Meu abraço grande, com carinho ,para vocês!!!
    Teresa

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    • Teresa, seu comentário vem sempre carimbado com uma boa dose de carinho e isso é muito bom. O bom do Ferreira Gullar é que ele dá tapas com luvas de pelica, não é?!
      Gosto muito de seu comentário aqui.
      Um abração grande e carinhoso para vocês todos (amigos número um da natureza!).

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