COMO EDUCAR UM FILHO PARA NÃO SE TORNAR UM ADULTO AGRESSOR ?

Imageby Judinara Braz

Recordo-me dos momentos em que eu brincava de roda com meus vizinhos. Fazíamos uma fila, e duas crianças de mãos dadas representavam uma ponte. Nós tínhamos de passar por baixo dos braços delas, cantando: “três, três passará, derradeiro ficará. Bom vaqueiro, bom vaqueiro, dá licença pr’eu passar com meus filhos pequeninos, pr’eu acabar de criar”. Ao parar diante das crianças com os braços em forma de ponte, respondíamos o que elas nos perguntavam. Banana ou maçã? Dependendo da resposta, cada criança ia para um lado; assim, a brincadeira chegava ao fim.

Desde essa época, eu ficava imaginando o quanto seria bom para os pais terminarem de criar seus filhos. Hoje, a experiência de ser mãe encoraja-me a pedir licença para acabar de criá-los. Pedir licença a quem? Pedir licença para quê? A este mundo descrente, para não sermos engolidos e afetados por nossas negligências. Pedir licença à violência, à falta de tempo para o outro, à intolerância, à impaciência, à falta de comunicação, à falta de afeto, de fé e de atenção. É preciso pedir licença, caso contrário, não saberemos ou não conseguiremos acabar de criar nossos filhos. Portanto, faz-se necessário escolher o melhor lado: banana ou maçã?  

Fazer essa escolha é educar os filhos para que não se tornem adultos agressores. É decidir por um planejamento familiar que promova a vida e diga ‘não’ à cultura de morte. Contudo, essa opção exige de nós disponibilidade para cultivarmos relações humanas fortalecidas na verdade e no respeito, evitando desgastes perturbadores tanto para os pais quanto para os filhos.

Cabe à família selecionar quais conteúdos ela gostaria que seus filhos aprendessem, a fim de não se tornarem adultos agressores. Para tanto, o limite precisa ser dado com ternura e serenidade, pois, desta maneira, como pais, possibilitaremos o conhecimento e a compreensão dos filhos com seus próprios sentimentos. A agressividade é um comportamento vivido por pais e filhos devido a vários fatores, quer seja por perdas significativas, falta de atenção e afeto, quer por excesso de reforço negativo; até mesmo pela falta de experiência com Deus.

O organismo humano, controlado aversivamente por esses estímulos, responde, muitas vezes, de igual forma, ora com mentiras, ora com atitudes de furtos ou incomodando socialmente, assumindo uma conduta caótica diante dos conflitos. Provavelmente, já estará instalado, nesse comportamento, a raiva. Ela nem sempre precisa ser repreendida, mas acolhida para que seja trabalhada da melhor forma possível; evitando, assim, consequências danosas, como o próprio comportamento agressor. 

Neste século, estamos vivendo distúrbios comportamentais motivados por vários fatores que demarcam a agressividade. A exemplo do bullying, da violência entre torcidas nos campos de futebol e do que aconteceu em nosso país recentemente, quando os brasileiros se manifestaram diante das suas insatisfações, podemos apresentar um comportamento agressor tanto na infância como na fase adulta. 

Nesse momento, não podemos esquecer que o indivíduo saiu de um útero, foi educado em uma família, frequentou uma escola e, muitas vezes, visitou uma igreja. Portanto, uma educação pautada na promoção do indivíduo é responsabilidade de todos: família, sociedade e Estado.

Quando nosso filho demonstrar que precisa de ajuda, pois o seu comportamento está inadequado, deveremos acolhê-los em suas necessidades.
É possível reestruturar o seu comportamento. Podemos desenvolver em nós algumas habilidades para combater essa situação quando as coisas não vão bem. Outros motivos que concorrem para a existência desse fenômeno é o consumismo, a pressa em satisfazer os desejos, o uso desordenado de jogos e a ausência de autoridade em casa. Conhecer as características da faixa etária do seu filho, também se torna um fator preventivo. Fiquemos atentos às brigas na escola, às dificuldade no enfrentamento dos desafios, ao comportamento de medo e ansiedade, à arrogância, à baixa autoestima e introspecção. É de bom vaqueiro que queremos ser!

Vamos assumir o amor que temos por cada um deles, expressando em gestos e palavras o quanto são queridos por nós. Que eles não são responsáveis pela dureza da vida que muitos pais vivem. Nossos filhos, para não serem adultos agressores, precisarão ter a certeza de que são desejados por nós.

* A agressividade está em alta, não acham???!!!

Judinara Braz Administradora de Empresas com Habilitação em Marketing,
Psicóloga – Abordagem Análise do Comportamento.
Autora do Livro:  Sala de Aula, a vida como ela é.
Diretora Pedagógica da Escola João Paulo I – Feira de Santana (BA).

18 responses to this post.

  1. Manô,

    Subscrevo completamente a reflexão da Judinara. Só não podemos esquecer que muitos pais empenham anos e mais anos numa educação correta aos filhos e ainda assim eles se embrenham por caminhos tortuosos. O que é frustrante para eles. De qualquer forma acho que sempre predominará algo que tenho comprovado ao longo de minha existência e que aprendi muito cedo, embora sem sempre consiga praticar, “a palavra branda, dissipa a ira” Gr. Bj.!

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    • Cris, você fez esse comentário e eu fui lendo devagarinho para entender bem o que você tinha a propor. Fiquei parado na palavra branda e acho que você tem razão. Meu pai sempre foi para mim “a palavra branda”. Muitas vezes eu não fiz “bobagens” na juventude porque depois de feita eu ia sentir “vergonha” do meu pai e não medo. Ele com sua palavra branda nos levava a isso. Gostei da lembrança que você me trouxe.
      Gr. Bj.!
      Manô

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  2. Sinceramente, acho que educar um filho nos dias atuais perdeu um pouco do sentido porque os pais entregaram o que antes costumava ser parte integrante do “processo de gestação” (se é que assim posso chamar) o ato de transformar aquele indivíduo em algo ou alguém, tanto que aos quinze anos havia o baile de apresentação a sociedade daquela figura previamente moldada em atitudes corretas, educação e cultura. À escola cabia apenas a alfabetização e orientação escolar de matérias e disciplinas geográficas, históricas e outras. O pai entregava o filho ao professor já devidamente instruído das leis que as orientaram até então, mas os pais estão tão ocupados hoje em dia que enfiam seus filhos nas escolas que preenchem cada vez mais tempo – deixando-os refém de um sistema que não sabe o que fazer porque não foi orientado nesse sentido.
    Enfim, não sei para onde vai essa geração de estudo integral e que se vê obrigado a ler aos três ou quatro anos. Todos são gênios – se bem que para mim não passam de coitados. Estão sendo ceifados e com o aval dos pais.
    Decerto, o amanhã irá nos acenar com suas insanidades e a sociedade verá nascer mais insanos capazes ou incapazes…

    bacio

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    • Lunna, sensacional esse seu comentário. É exatamente isso o que ocorre e quem tem um alto poder aquisitivo e pode colocar os filhos em colégios particulares e bem pagos ainda tem o direito de reclamar de alguma coisa. Quem depende do estado ou município fica ao Deus dará. Tenho um amigo professor em escola estadual no turno da noite. Quando os alunos resolvem que não vai haver aula, eles param tudo e intimidam o professor. E isso é rotina. Um professor de inglês tentou continuar a aula, apanhou muito dos alunos e teve seu carro com todos os pneus rasgados e a lataria toda riscada. Resultado: Aposentadoria por motivo de doença. E assim vai.
      Se os pais já entregassem os filhos educados para a escola, esse tipo de problema não existiria. Questão de inteligência isso.
      Bacio

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  3. Há um aspeto da maternidade (e da paternidade) que nenhum manual pode explicar, que ninguém pode ensinar ao outro, mesmo tendo vivido a experiência, porque cada mãe, cada pai, cada filho, cada filha é diferente.
    Há, porém, uma linha de conduta que deve sempre ser seguida: a do amor e do respeito!
    O mundo é violento. Sempre foi. Temos tendência a dizer que este século, esta década, atingiu ao auge da violência mas quando olhamos para a história, a violência sempre fez parte do mundo, de uma forma ou de outra. Não podemos impedir os nossos filhos de assistir a certos eventos provocados pela violência, mas podemos ensinar-lhes a ser críticos perante atos que desaprovamos, aprender-lhes a pensar por eles próprios, a ser objetivos. Não é tarefa fácil e acredito que seja possível. Claro que é preciso tempo, mas tempo de qualidade, tempo de relacionamento verdadeiro.
    Muito boa, esta publicação!
    Abraço!

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    • Dulce, muito bom mesmo foi o seu comentário. Somos influenciados pela mídia (não devíamos; devemos pensar com nossas cabeças e não com as da mídia, kkk!) a achar que o mundo nunca foi tão violento, mas se fizermos um prospecto dá para perceber que na época em que os homens eram devorados por leões nas arenas, a coisa era também bem pesada.
      Perfeito o seu comentário e muito interessante a afirmação de que as orientações tem que ser feitas individualmente. Cada pessoa é única e tem seu modo de pensar e reagir. Você acertou em dizer que podemos ensinar-lhes a serem críticos perante atos que desaprovamos, aprender-lhes a pensar por eles próprios, a ser objetivos. E não é fácil mesmo, mas conseguimos conhecer o caminho para isso.
      Adorei o seu equilibrado comentário.
      Um grande abraço

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  4. Manoel, um dos últimos episódios de violência tão comentado, a agressão de torcedores num estádio de futebol, é algo absurdo.
    e essa é uma das minhas, e creio de muitos pais também, criar filhos para que sejam da cultura do bem, da paz. Exercendo seus direitos de maneira civilizada.
    Excelente texto!

    E também já relaxei ouvindo Clarice! Beijo

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    • Ana Paula, absurdo mesmo. Acho interessante que cada um justifica isso de um modo que lhe convém. Eu acho que para isso não tem justificativa. A prisão foi feita não para castigar as pessoas e sim para tirar da sociedade pessoas que não conseguem conviver ou relacionar-se. A lei existe para isso e deve ser usada.
      Bom mesmo é ouvir a Clarice, kkk!
      Beijo

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  5. Republicou isso em Meu Relicárioe comentado:
    Texto maravilhoso e muito bem elaborado! Vale a pena ler.
    Bjs
    Sol Ferrari

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  6. Texto maravilhoso! Já estou “roubartilhando”… ok?
    Bjs
    Sol

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  7. Manoel!
    Esse texto realmente é muito bom. Faz a gente parar para refletir e ver como os valores da sociedade atual estão invertidos. Não basta colocar mais um filho no mundo, tem de participar! 😉
    Beijos.

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  8. Que texto incrível! Criar filho sempre foi difícil, mas hoje em dia deve ser uma verdadeira batalha! A nossa sociedade está muito superficial e sem valores concretos, tudo é só aparência. E sobre a violência, infelizmente no nosso país anda se acostumando com todo tipo dela.
    Precisamos mudar isso e o melhor jeito é mudando nossa casa!
    Beijos,
    Laís

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